segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Sempre fomos palhaços

Vivíamos momentos culturais e artísticos muito felizes, porém já fazíamos previsões da nostalgia que sentiríamos daqueles momentos. Éramos palhaços devidamente maquiados e fantasiados, vivendo o que imaginávamos. Logo abaixo do nariz, a boca falava – em alto e irônico tom – em efervescência poética e protestante.

Nossas palavras ecoaram pela praça pública central, bateram num espaço cultural, ecoaram em uma casa noturna, espumaram na calçada em frente ao comércio, mas adentraram mesmo nos ouvidos de amigos etilizados.

E quando cada fragmento desses se encerrava, marcávamos por fim que iríamos saudar aquilo tempos depois. Sabíamos que a sensação seria a mesma que sentíamos daqueles momentos antigos que nem sequer tínhamos vivido, mas queríamos repetir.

Não repetimos, mas fizemos alguma coisa. Se toda a nossa cara a tapa fixou na mente de alguém, deve lhes causar hoje a mesma nostalgia que sentíamos de outras aparições. E isso também nós prevíamos. Para outros deve coçar por todo o couro uma vontade de também fazer um bocado de arte.

Algo me parece estar desonesto nas previsões que fazíamos. Nostalgia, que acompanha tristeza, não é a melhor palavra. Porque aqueles palhaços, me lembro, mostraram que estavam fartos do lirismo comedido e bem comportado. Eles puseram abaixo alguns puristas. Aqueles três bobos embriagaram-se do lirismo dos loucos, do lirismo difícil e pungente dos bêbedos e do lirismo dos clowns de Shakespeare, deixando de lado o lirismo que não era libertação. E mais: eles conseguiam ser alegres o tempo inteiro.

E hoje, apesar de não escancarar palavras pela cidade, raciocinam equilibradamente pensamentos críticos por aí. Sem colocar seu nariz e sua peruca em mais ninguém, mas, num mesmo silêncio que atinge a platéia no momento em que o mágico anuncia o espetáculo, sabem rir por dentro de quem é mais palhaço.

Pois é, não é!?

Um comentário:

Anônimo disse...

eu tenho medo de palhaço!