terça-feira, 17 de setembro de 2013

Primeiros socorros

Duas irmãs suecas que cantam. Os timbres das duas atingem uma harmonia perfeita. Já ouvi que isso só é possível entre irmãos. Faz umas quatro semanas que eu ouço First Aid Kit sem parar. Eu, que não tenho uma caixinha de primeiros socorros, tenho esse som como um remédio. Remédio pra criatividade e inspiração. Eu ouço e fico com vontade de escrever, de cantar, de sair pelo mundo fazendo coisas boas e bonitas. Tô apaixonada pela sensibilidade delas. Esse folk/country é a cara do inverno cinza das cidades pequenas e paradas. Muitos acham esse um cenário deprê. Eu acho que isso inspira. Vejo que onde nada acontece, as mentes criativas fazem nascer formas de criar algo que possa entreter sem ter que deixar aquele lugar. É bem pessoal. Mas esse tipo de som transforma a sensação melancólica de nostalgia em algo positivo. Em vontade de mudar as coisas agora. Em vontade de resgatar as coisas boas de um passado que eu não vivi. Dá pra ouvir no site delas: http://thisisfirstaidkit.com

Ontem na fanpage elas anunciaram que vão abrir o show do Rodriguez em Nova York, aquele cara doce como a música dele. Achei super merecido. Johanna e Klara Söderberg têm 21 e 18 anos. E hoje encontrei esse vídeo delas cantando minha música preferida da Patti Smith. E tava ouvindo sem assistir, até que troquei de aba e vi a Patti na plateia chorando de emoção.


Muita gente boa junto. Eu acredito que algumas pessoas tem conexões surreais. São parecidas nas suas atitudes, pensamentos, crenças. A rede possibilita que a gente sinta isso. A rede oferece sim coisas boas. 

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Ela sentou-se na cadeira do quarto. Apagou uma das luzes para concentrar-se. Na penumbra de sua ansiedade, perguntas se debatiam de um lado para o outro. Desesperadas por respostas se repetiam em diferentes ordens ignorando qualquer gramática.

O silêncio da noite de um dia que ferveu, era interrompido pela chuva. Nem a água, nem o ar, nem o calor, nem o ar refresco eram capazes de lhe arrastar respostas.

Restou-lhe organizar as perguntas.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Vida

Gatuno, saiu pela janela e subiu a árvore. Na tentativa de alcançar o chão, titubeou em um dos galhos e as pernas estremeceram. Amorteceu e seguiu. Precisava ir embora. Desmanchar-se por uma nova estrada. Refazer-se. Era sempre assim. Não tinha ninguém. Morava só. Mas precisou de uma saída mais triunfal. Já no chão, puxou o ar com força pelas narinas. Esticou os braços ao alto e deixou-se desabar na grama de bruços. Sentiu a terra abraçando seu corpo como se fosse areia movediça. Rolou para o lado. Olhou para o céu. Gritou tudo o que tinha dentro do peito.

Levantou. Suspirou ansioso e alegre. As contas estavam zeradas. Viu-se como um artista de circo. Os passos começaram suaves e ritmados. Era o final da tarde de um céu azul. Foi sumindo. Em direção ao sol, contrastando com a luz. Pelas costas, dava pra enxergar seu sorriso.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

ihhh

acho que estraguei o blog...

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Ritmo

Meus pés eram dois complexados. Sim, os dois. Eles jamais andavam juntos. Mesmo que eles fossem na mesma direção, um sempre chegaria antes que o outro. E eles só sabiam andar e queriam mesmo era andar lado a lado, porque andar era o ritmo que os dois mais gostavam. Mas essas coisas só podiam contar um para outro quando dormiam.

Vendo que o complexo de meus pés aumentava a cada dia, resolvi buscar uma solução. Percebendo que nem uma alteração da gravidade faria com que meus pés andassem juntos, fui buscar pés de outras pessoas para fazer companhia a eles.

Encontrei outros dez pés, junto aos meus, eram doze. Meus pés, que só sabiam caminhar, foram compassando com os outros pés que os ensinaram outros ritmos.

Os outro pés trouxeram rock, jazz e funk e saíram caminhando com os meus numa levada de groove, Hábitos Groove...

sexta-feira, 24 de julho de 2009



Tenho medo de virar uma pessoa responsável e não conseguir mais ser artista.


frase dita pela personagem da Andréia Beltrão, ontem no Som & Fúria.

sábado, 30 de maio de 2009

Ansiedade

Ela acordou às 16h40min. Tinha tentado assistir à Sessão da Tarde, mas o filme deu sono. Era muito urbano. Tirou o pijama cor de rosa desbotado. A transparência que o tecido carregava era de tanto ter sido usado. Na última porta do armário, detrás das blusas de tricô, tirou o uniforme da escola em que estudara durante onze anos. Vestiu.

Na cozinha, pegou da fruteira amarela uma maçã. Na mochila azul, pôs a agenda e guardou a fruta metade vermelha, metade verde.

Desceu as escadas, abriu o portão da garagem e entrou no 147. Era velho e arranhado, quase todo original. Não que ela se importasse. Gostava da função que ele tinha e como bem a atendia. Com poucas manobras, tirou-o da garagem e foi em direção à escola.

Chegou eram 17h12min. Queria curtir a turma dos “pequenos” saindo. Botou a mochila e saiu do Fiat. Enquanto aguardava a sineta bater, às 17h35min, a “saída dos grandes”, ela puxou do bolso externo da calça um amarrador de cabelo feito com a barra da meia fio15 da mãe. Tirou o par, que amarrava os cabelos. Dividiu os fios castanhos ao meio e amarrou em duas vezes.

Um ônibus chegou. Ela esperava o segundo.

Bateu. A segunda lotação chegou. Misturada aos uniformes dos colegas ela atravessou a movimentação na rua e embarcou no ônibus. Depois de uns dez bancos ainda vazios, ela sentou. Escorou a cabeça, na janela, claro.

O ônibus começou a rodar. O olhar deixou-se levar. Vagou pela paisagem dourada dos parreirais que contornavam a estrada estreita e sinuosa. Um capitel a Santo Antonio e pequenas casas com jardins de rosas quebravam a visão contínua da natureza. Cães e gatos misturavam-se às galinhas em uma das moradias.

Quando avistou a vinícola, de súbito, desgrudou a cabeça da janela. Puxou a campainha repentinamente e, um pouco desequilibrada, segurou a corda por longo tempo.

Com a mochila escorrida em um dos braços, titubeou pelo corredor. Entregou a passagem para o motorista e desembarcou. Ajeitou a mochila nas costas e respirou fundo aquele ar puro da colônia. A noite descia.

Andou durante oito minutos pela estrada de terra e pouco cascalho. Ouviu ao longe o ta-tá. Mais perto, avistou a casa de tijolo à vista. A respiração estava diferente. Na porta, bateu três pequenos socos. Recebida pela Giuditta, matou. A saudade, claro.