sábado, 30 de maio de 2009

Ansiedade

Ela acordou às 16h40min. Tinha tentado assistir à Sessão da Tarde, mas o filme deu sono. Era muito urbano. Tirou o pijama cor de rosa desbotado. A transparência que o tecido carregava era de tanto ter sido usado. Na última porta do armário, detrás das blusas de tricô, tirou o uniforme da escola em que estudara durante onze anos. Vestiu.

Na cozinha, pegou da fruteira amarela uma maçã. Na mochila azul, pôs a agenda e guardou a fruta metade vermelha, metade verde.

Desceu as escadas, abriu o portão da garagem e entrou no 147. Era velho e arranhado, quase todo original. Não que ela se importasse. Gostava da função que ele tinha e como bem a atendia. Com poucas manobras, tirou-o da garagem e foi em direção à escola.

Chegou eram 17h12min. Queria curtir a turma dos “pequenos” saindo. Botou a mochila e saiu do Fiat. Enquanto aguardava a sineta bater, às 17h35min, a “saída dos grandes”, ela puxou do bolso externo da calça um amarrador de cabelo feito com a barra da meia fio15 da mãe. Tirou o par, que amarrava os cabelos. Dividiu os fios castanhos ao meio e amarrou em duas vezes.

Um ônibus chegou. Ela esperava o segundo.

Bateu. A segunda lotação chegou. Misturada aos uniformes dos colegas ela atravessou a movimentação na rua e embarcou no ônibus. Depois de uns dez bancos ainda vazios, ela sentou. Escorou a cabeça, na janela, claro.

O ônibus começou a rodar. O olhar deixou-se levar. Vagou pela paisagem dourada dos parreirais que contornavam a estrada estreita e sinuosa. Um capitel a Santo Antonio e pequenas casas com jardins de rosas quebravam a visão contínua da natureza. Cães e gatos misturavam-se às galinhas em uma das moradias.

Quando avistou a vinícola, de súbito, desgrudou a cabeça da janela. Puxou a campainha repentinamente e, um pouco desequilibrada, segurou a corda por longo tempo.

Com a mochila escorrida em um dos braços, titubeou pelo corredor. Entregou a passagem para o motorista e desembarcou. Ajeitou a mochila nas costas e respirou fundo aquele ar puro da colônia. A noite descia.

Andou durante oito minutos pela estrada de terra e pouco cascalho. Ouviu ao longe o ta-tá. Mais perto, avistou a casa de tijolo à vista. A respiração estava diferente. Na porta, bateu três pequenos socos. Recebida pela Giuditta, matou. A saudade, claro.

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