quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

carona

O menino chegou apressado ao ponto de ônibus. Pediu para um. Perguntou para outro. Nada. Então sentou-se no pequeno espaço que restava no banco do ponto. Não notou a velhinha ao seu lado. Baixou a cabeça. Era tristonho. A velhinha tinha o olhar fixo nele.

“Tão pequeno... Onde estaria sua mãe”, ela pensava.

Eis que, ao perceber sua presença, ele se vira para ela e pergunta:

- A senhora em um drops?

Silenciosa e pensativa ela coloca a mão direita dentro da bolsa – ainda com aparência de nova, mas adquirida já há umas quatro décadas – e fica a revirá-la. Entre carteira, o batom suavemente rosa, o pente e remédios para o coração, ela encontra o saco plástico com as balas que comprara no Armazém do Zeca. Ela tira uma. A embalagem é verde-musgo, com escritos em amarelo.

- Tenho estas, de menta, filho – deixa escapar.

- A senhora não é minha mãe! – diz o guri com ar valente e continua – Aliás, eu não tenho mãe!

- Tudo bem – ela devolve – eu também não tenho filho

- E filha, tu tem? – questiona ele pegando a bala da mão dela.

- Também não – ela responde.

“Como uma pessoa com a idade dela pode não ter filhos” – divaga o menino enquanto seus cabelos lhe caem sobre os olhos e ele desembrulha o doce que acabara de ganhar e o coloca na boca.

Era mania dele, colocava as balas sob a língua. Salivava bastante pra parecer que tomava um suco adocicado.

Passou o primeiro ônibus. As pessoas embarcaram e lotaram o transporte. Apesar do vento que gelava o rosto, tanto ele, como a senhora, preferiram aguardar a próxima embarcação, que chegou minutos depois, quando o sol já tornara o vento mais quente.

Desta vez, o transporte estava vazio. Os afobados estavam todo na primeira lotação. O menino subiu na frente e parou no primeiro degrau. Como um cortesão de boas maneiras, estendeu a mão para a velhinha para que ela também adentrasse.

...

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